domingo, 28 de abril de 2019

Ser

E roço o céu
na linha do mar
no desejo alado
de poder navegar.

E solto a brisa
cativa em mim
e largo as velas
cheias assim

Os meus fusíveis...

Os meus fusíveis fundiram-se
não sei quem me pôs assim
as ideias confundiram-se
e não sei já que é de mim.
Que mais poderei esperar
dum lugar de mal-estar?

Estou agora aqui moída
sem saber o que fazer
depois da mente roída
só me resta o recolher.
Que mais poderei esperar
dum lugar de mal-estar?

Das palavras sem sentido
às ideias baralhadas
tudo tem acontecido
nesta mente rebentada.
Que mais poderei esperar
deste lugar de mal-estar?

Da memória já nem falo
do que me anda a suceder
e até já nem me ralo
com tudo o que ando a esquecer.
Que mais poderei esperar,
dum lugar de mal-estar?

Fátima Nascimento





Preces

São cânticos de primavera as minhas preces: pirâmides de luz, raízes de vida,
segredos de universos.

Sou...

Sou a solidão do mar
num dia cinzento de chuva
o músculo aquoso que embate
nas rochas sombrias do tempo.
O canto inquieto que invade
o colo de minha alma perdida.
As veias esculpidas no dorso
da vaga que se ergue nos ares
agitando os cabelos revoltos.
Sou as montanhas de fogo
roídas por dentes de vento gelado.
Sou a madrugada vestida de noite
a luz vestida de permanente luto.


Fátima Nascimento